quinta-feira, maio 7

Esmola

Dar esmola é uma daquelas coisas que eu odeio, mas não consigo resistir. Me dá muita dó, não tem jeito. Mas eu dou pouco, geralmente o troco da passagem, um real no máximo. O pior é quando eu só tenho moedinhas de dez centavos: conto umas cinco ou seis e dou achando bom ainda. E eu fico com muita raiva se a pessoa contar na minha frente.

Acontece que aqui em Brasília, todo ônibus que você entra tem alguém pedindo. A filha que tá no hospital precisando de operação, a entidade que cuida de drogados sem ajuda governamental, a creche de crianças carentes, a velha que precisa dos remédios, o homem vendendo caneta/melzinho/bala, o chileno vendendo cd's de música (é o mais legal, ele começa a tocar um instrumento que eu não sei o nome, se apresenta, vende os cd's e volta a tocar). Acho que depois da lei que proíbe dar esmola, só aumentaram os pedintes.

Enfim, só queria deixar claro o motivo pelo qual nunca mais darei esmola:

Um dia desses, tava voltando pra casa de ônibus, e pra variar, entrou um homem todo sujo, que eu até já tinha encontrado em outros ônibus, falou umas coisas que emocionou a todos e passou pedindo, eu dei um real, a mulher do meu lado deu dez reais, todo mundo contribuiu. Só que depois que ele desceu do ônibus, a cobradora começou a falar pra quem quisesse ouvir: "Esse cara aí tem dinheiro pra caramba, só de pedir. Ele até tá fazendo uma faculdade particular lá, tem casa...". Eu queria rir da mulher que deu dez reais, mas eu também tinha dado dinheiro pra ele, e todas as vezes que o encontrei. Acho que ela também nunca mais vai dar esmola na vida dela.